Há alguns dias o site potiguar O Inimigo postou uma matéria que está dando muito o que falar: uma entrevista com Pablo Capilé, Coordenador de Planejamento do Espaço Cubo, articulador do Circuito Fora do Eixo, e vice presidente da Abrafin, falando sobre a rede, os coletivos, ABRAFIN, entre vários outros assuntos relacionados.
Não pudia deixar de comentar lá né..
E coloco aqui a íntegra da argumentação:
É incrível a dificuldade que “artista” tem de enxergar a dimensão dos festivais enquanto expositores da nova música brasileira. A música brasileira atual não está mais nas rádios e sim nos festivais. A lógica anterior, a do jabá, era de pagar pra tocar (na rádio). Hoje, que as coisas estão se transmutando para um campo mais justo e democrático, tem gente batendo o pé e fazendo birra. Ninguém precisa mais pagar pra se expor pra grandes públicos, mas ainda assim querem mais. E se lembrarmos que quem coloca o público no festival não são as bandas, mas sim os produtores do festival (com meses de ação estratégica), essa lógica egocêntrica fica ainda mais ridícula.
Pra citar duas bandas já referidas aqui: Eu jamais saberia da existência do Sweet Funny Adams se não fosse os shows que eles fizeram no Bananada e no Calango. O único show do Cidadão Instigado que vi foi no Festival Varadouro, em Rio Branco, no Acre. Mas em compensação, vi uns 15 shows do Móveis Coloniais de Acaju, em tudo quanto foi quanto do Brasil.
Não entendo como pode existir tanto anacronismo, e fulanos continuarem achando que a sua criação super genial é o que basta para se inserir no mercado. E o processo de inserção no mercado é tão básico e simples, que parece cartilha do primário.
Pra citar um exemplo próprio, o Macaco Bong é uma banda empresa em seu modo de funcionamento e gestão, mas em sua essência é mais um dos programas do Espaço Cubo, dentre vários outros programas do instituto que envolvem cultura, tecnologia social e economia solidária. Não acreditamos que todas as bandas tenham que ser dessa maneira, óbvio, mas um mínimo de compreensão de mercado, humildade e “saber enxergar o próprio tamanho” é o caminho básico do sucesso – lembrando que o conceito de sucesso aqui é pagar as contas e não o estrelato. Nesse contexto vale mais uma vez citar o Móveis, que considero a maior banda brasileira da atualidade.
Sobra preguiça e falta planejamento pros chorões. Por exemplo, quando o Macaco Bong capta algum valor em espécie, não existe uma divisão do bolo para cada integrante suprir suas necessidades de regalias, mas sim um reinvestimento sistêmico em todo o processo, seja no Espaço Cubo, numa próxima viagem da banda ou numa turnê por vários estados com outras bandas parceiras, dando ainda mais visibilidade e estímulo a todos os envolvidos da cadeia produtiva.
E mais, gerando dados e tecnologias registradas e disponibilizadas para todo o mundo, abrindo toda a planilha de custos e viabilidade. A última turnê que fizemos – uma ação da Agência Fora do Eixo com mais duas bandas Porcas Borboletas e Burro Morto – consolidou uma rota de Fortaleza(CE) a Uberlândia(MG), TOCANDO TODOS OS DIAS SEM DAY OFF, cada dia em uma cidade diferente. Independente de ser fim de semana ou meio de semana, as casas ficaram lotadas, e tudo pode ser conferido pelo http://foradoeixotour.wordpress.com.
É nesse momento que o artista tem que se entender como gestor, sabendo negociar com cada caso específico. Tem lugar que foi entrada franca, tem lugar que teve bilheteria e a tour se capitalizou, tem lugar que o produtor precisou usar a bilheteria pra pagar o aluguel da casa de shows que não é dele… enfim, cada local uma realidade diferente a ser dialogada e produzida conjuntamente. É nesse momento que o artista se entende como protagonista da História (com H maiúsculo, saca?) não sendo um mero bobo da corte que garante o entretenimento, exigindo receber, receber e receber pela graça concebida. Na boa, é muita preguiça só querer subir no palco, tocar e exigir a todo custo ter a mãozinha molhada no final da festa.
É isso que faz com que o Macaco Bong se capitalize com shows no Planeta Terra e na Virada Cultural, por exemplo, mas banque a gasolina pra tocar no meio do mato, em cidades de produção de eventos em formação, como foi em Pirenópolis (outro exemplo já citado aqui nos comments).
Os comentários de China são quase hilários de tão sem embasamento.
“é facil pegar dinheiro público, difícil é fazer música”.
Mano, fazer musica é facil, fazer musica é gostoso, é a valvula de escape. Dificil é fazer festival. Vem tentar fazer um festival do porte do Calango numa cidade como Cuiabá, se ralar todo pra trazer o backline de fora pq aqui não existe, e a partir daí criar a demanda para que as empresas de sonorização invistam em equipamentos para fornecer, só pra citar um único exemplo. Toda a demanda da cadeia produtiva daqui está sendo criada há 9 anos de Espaço Cubo, sendo 7 edições do Calango.
“Como eu posso fazer de graça a única coisa que tenho pra ganhar a vida?
Ô China, a única coisa que vc tem pra ganhar a vida é tocar em festival? Com tudo oq foi dito aqui não tá claro que os festivais são a nova rádio, o novo canal de exposição? Cabe à banda se articular e formar público no festival pra depois poder voltar à cidade e encher uma casa de show e sair de lá com o valor da bilheteria.
ha trocentas maneiras de se capitalizar, “ganhar grana” com isso. Querer viajar de avião, só tocar no festivalzão lotado e receber milhares de reais é mamata demais..
vai fazer planilha de excel, bróder..
vai se planejar..
Como bem disse o Edimar, “A banda coloca metade dessa grana que o cara ia gastar de passagem (aérea) de combustível no carro, e dá pra fazer mais pelo menos umas 5 cidades perto. E o cara ainda vai economizar metade da grana de passagem”.
É simples.
Ralar pra fazer boas composições, tirar bons timbres, executar bons shows e gravar bons discos é só UMA PARTE do processo. O artista é um trabalhador como outro qualquer..
Mais uma vez citando o Edimar, “Agora, tem gente que não pode mandar e-mail nem viajar de carro né??? Claro… são artistas!”
aí fica mesmo bem difícil… rs
Vamos pensar mercado.. qualquer comerciante sabe que não adianta empurrar o produto guela abaixo do consumidor, vc precisa conquistar o consumidor. No caso do músico, isso significa (entre outras coisas) formar o seu público. O festival é a maior oportunidade de formação de público que se pode ter, maior oportunidade de se conquistar o seu “consumidor”, para depois voltar ao local e se capitalizar produzindo conjuntamente, seja com coletivos, produtores ou casas de shows.
Um exemplo?
A gente ja fez show em recife (a cidade do China), na rua, de graça, montando toda a estrutura, sem ganhar um tostão, mas tocando debaixo de chuva e conquistando público. Hoje tenho certeza do sucesso de um show do Macaco no recife em qualquer casa de show que seja. Assim como a aprovação na curadoria da feira musica brasil pra estar entre as 3 apresentações que fecharam a noite no Marco Zero pra 10 mil pessoas. =)
Investimos muito pra resultados como esse e continuamos investindo. O processo é contínuo e constante.
Repetindo o comentário da Júlia Leite:
“Pablo deu uma verdadeira aula de sabedoria cultural, sem “pagar de pseudo intelectual”, sendo muito perspicaz com os símbolos utilizados nas palavras mais massificadas nesse cenário, construindo uma verdadeira tese própria, condizente com a realidade e mais, mostrando ser muito possível construir uma cultura solidária, se todo mundo ceder um pouco dos seus egos, do seu bairrismo e coorporativismo pessoal/grupal, movido à interesses pessoais que sinceramente, não cabem no meio cultural ideal. Pablo mostrou que essa cultura antropológica, digna dos sábios, não é utopia, é possível e já tá acontecendo. E mostrou como a história é sábia de nos contar repetidas vezes, que grandes “fazedores” de cultura e história, sempre são alvo da maioria medíocre e devem inclusive superar isso, pra se estabelecerem”.
É muito claro que a realidade econômica da música brasileira no momento histórico que vivemos exige que o trabalho seja dessa maneira pra funcionar. Não tenho fortunas, mas tenho instrumento razoável, como todo dia num dos melhores restaurantes da cidade (com o Cubo Card, moeda social do Espaço Cubo), moro bem, viajo o país e exterior, perdi a conta de quantas praias conheci esse ano, vi show do Sonic Youth, dialoguei com os caras de igual pra igual, na posição de uma banda brasileira de porte considerável, entre muuuuitas outras experiências.
É uma riqueza muito maior do que o valor hegemônico dado ao capital.
É por aí…
mas vou indo, hoje tem prévia do grito rock aqui em cuiaba, e tem dezenas de moleques loucos com a agitação, que vão tocar pela primeira vez na vida pra um público de 100 pessoas, se estimular com isso e formar as próximas boas bandas daqui de Cuiabá e quiçá do país.
Quem sabe daqui uns 4, 5 anos, uma dessas bandas não estará diante de dez mil pessoas no Marco Zero, em Recife.
Com o perdão do trocadilho.. é ‘pagar pra ver’.
Abs.
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Só pra contextualizar a parte do jabá, que foi o único ponto da minha fala que pegaram pra tentar desconstuir. Ninguém tem que pagar jabá pra festival, é investimento conjunto.
Comparar os milhões de dólares pagos às rádios com 100 reais pra uma passagem pra Goiânia, é no mínimo falta de pesquisa. Esse investimento conjunto tem tornado as condições cada vez mais favoráveis pra todos, e tudo indica que as melhoras só tendem a continuar, e cada vez mais aceleradas. Estamos mudando a realidade do país.
Pra, mais uma vez, dar o exemplo da faculdade aqui… o melhor dos mundos será quando a educação for distribuída pra todos os cidadãos, mas enquanto não é, o cara paga a faculdade por 4 anos – um puta de um investimento caro – pra dali obter retornos. Quatro anos é exatamente o tempo de existência do Macaco Bong. Saiu muito mais barato que a faculdade, e me encontro muito mais realizado.
__________E aí chega por aí. Toda tentativa de desconstrução por parte de vaidosos egocêntricos é bem rasa, e se torna perda de tempo e redundância insistir na discussão com quem só fala fala e não apresenta nada.
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